Capítulo 1 - Descentralizar - Parte 1
Entendendo e Compreendendo a Descentralização
ABRA SUA MENTE PARA UM MUNDO MAIOR
O Brasil tem, aproximadamente, 200 milhões de habitantes. (O CENSO 2010 APONTA 190 MILHÕES) Aproximadamente 100 milhões deles já acessaram a internet. (CGI.BR 2015 aponta 102 milhões de internautas) Há entre 100 e 150 milhões de usuários do Facebook ativos no Brasil. (Segundo o Facebook Audience Insights) Se o mundo é tão grande e temos pouco contato com ele, acabamos pensando que temos concorrentes em todos os lugares. A cultura de concorrência é algo compreensível em um ambiente de escassez.
Entretanto, a internet é um ambiente de abundância. Nele, podemos impactar muitas pessoas com alta qualidade. Uma loja física pode atender centenas de pessoas. Uma loja virtual, por outro lado, pode atender milhares. Se pensar que não temos mais as barreiras físicas da distância, podemos dizer que meu público potencial passa da casa dos milhões. Some a esse panorama o fato de termos cada vez mais ferramentas de divulgação com alto poder de segmentação. Assim, fica fácil perceber que acreditar que temos concorrentes em um ambiente de abundância é um pensamento provinciano.
PENSE SOBRE ISSO
Os dados apresentados em pesquisas tradicionais se baseiam em métodos que podem demorar meses para ficarem prontos - além de possuírem uma margem de erro percentual. As ferramentas digitais podem disponibilizar acesso aos dados de maneira consolidada e anônima, permitindo a extração de números em questão de segundos. Ferramentas como o Facebook Audience Insights, Google Trends e o Google Keywords Planner Tools podem fornecer informações importantes. Entretanto, ao mesmo tempo que as infinitas possibilidades são seu maior trunfo, elas também são sua maior fraqueza. Garimpar as informações corretas - e compreendê-las - é o maior desafio. Sempre utilize as informações entendendo sua origem. Tomar decisões baseadas em informações aleatórias raramente é a melhor solução e, muitas vezes, a interpretação dessas informações será seu maior trunfo.
As perguntas principais aqui são “o que fazer com essas ferramentas?” e “quais dados vamos extrair e o que vamos ler nas entrelinhas?” Há algum tempo falamos das “aldeias digitais”, em que pessoas influenciam outras de uma maneira muito semelhante ao efeito Swarm (enxame). Você, em média, impacta ou influência cerca de 150 pessoas, segundo o número de Dunbar. Este valor pode ser visto historicamente em vários momentos diferentes e varia de 100 a 250 pessoas, sendo 150 o padrão mais adotado.
O número de Dunbar aparece em muitos cenários repetidamente, como no exército, nas escolas e nas faculdades. Segundo o site do Ibama*, as aldeias indígenas têm, em média, 150 habitantes. Naturalmente, o número de Dunbar também pode ser aplicado às redes sociais. Em relatórios gerenciais sobre redes sociais, existem vários casos em que os números não refletem a realidade. Por exemplo, podem existir campanhas que demonstram atingir milhões de usuários mas que, na verdade, alcançaram apenas um grupo pequeno de pessoas que realmente recordam da mensagem. É aí que entra o número de Dunbar. Utilizamos o valor para chegar a estimativas de influência mais próximas do real. Isso significa admitir que o impacto médio padrão de uma publicação nas redes sociais é de 150 pessoas. Essa aplicação é comprovada em plataformas em que podemos analisar o número de pessoas impactadas por uma publicação dentro de um período de tempo. Número de Dunbar foi lembrado e utilizado como referência para um famoso filme da Disney em que foram utilizados 150 elefantes, 150 figuras de cenário e 150 elementos gráficos. A figura de Robin Dunbar é representada pelo elefantinho de orelhas grandes, como as de Robin. *FONTE: www.ibama.gov.br/
Ano após ano, uma tecnologia canibaliza outra. As tecnologias mais populares não deixam de existir, mas passam por grandes transformações. Quando a televisão surgiu, muitos profetizaram a extinção das emissoras de rádio. O discurso apocalíptico para a televisão veio com a internet e ficou mais evidente com a TV sob demanda. A televisão, como conhecemos, deixará de existir e terá que passar por uma transformação. A evolução tecnológica trouxe novos recursos e ferramentas. São soluções que, décadas atrás, nem poderíamos imaginar. UM POUCO DO ONTEM Uma geração atrás, brincamos na rua em meio aos carros, sem nenhuma segurança. Construímos carrinhos de rolemã e descemos ruas íngremes, sem freio nem equipamentos de segurança. Fomos a geração que sobreviveu contra todas as estatísticas. Foi a era do conhecimento construído de forma rústica, com enciclopédias empoeiradas que, inúmeras vezes, traziam informações datadas e desatualizadas. Informações atualizadas chegavam a cada ano em um exemplar com as “erratas” contidas nos impressos anteriores. Não se via nem sinal de Google ou Wikipedia, com suas buscas rápidas, respostas completas e informações atualizadas. O Google para essa geração era conhecido como Índice Remissivo.
UM POUCO DO HOJE Os pais e mães de crianças hiperconectadas devem saber qual a relação entre:
A nova geração cresce sob as asas da Galinha Pintadinha. Uma era de pessoas que, com apenas três anos de idade, já sabem desbloquear tablets e smarthphones. A mesma leva que, com cinco anos, já escolhe seus próprios vídeos no Youtube. A Galinha Pintadinha, que fi gura entre os canais mais visualizados do Brasil, já ultrapassa os 9 milhões de inscritos e as mais de 7 bilhões de visualizações.
SERÁ QUE OS CANAIS DE PROGRAMA INFANTIL CONSEGUEM ALCANÇAR TAIS NÚMEROS?
SERÁ QUE O QUE OS CANAIS DESEJAM É, REALMENTE, SUPERAR A GALINHA PINTADINHA?
SERÁ QUE SUPERAR A GALINHA PINTADINHA É UMA META QUE PODE SER ALCANÇADA?
SERÁ QUE AQUELA FOI A ÚLTIMA GERAÇÃO QUE BRINCOU NA RUA?
As perguntas são muitas sobre o futuro da comunicação.
A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA TRAZ JUNTO UMA MUDANÇA NOS MODELOS DE NEGÓCIOS
A evolução tecnológica também promove mudanças de comportamento. Essas mudanças podem trazer, por consequência, novas formas de obter lucro. O próprio canal da Galinha Pintadinha recebe um valor pelas visualizações em seu canal, pago por anunciantes - homens de negócio que os proprietários do canal desconhecem! Essa intermediação comercial (quase) inexistente acontece sem a necessidade de longas conversas, reuniões ou negociações. Ela é feita automaticamente pela plataforma, através de algoritmos. São lances, confi gurações e regulagens automáticas que tornam o processo algo de difícil compreensão, porém de extrema eficiência. Para enfrentar tantas mudanças é necessário muito mais que capacidade técnica. Também é necessária uma boa dose de ousadia. Pois neste cenário rápido e ágil não há apenas a evolução tecnológica; também mudanças nos modelos de negócio. A mudança nos modelos de negócios ainda é mais traumática do que as tecnológicas. Isso acontece pois, mesmo com novas tecnologias, o mercado tem uma resistência maior aos novos modelos de negócios. A mudança tecnológica é inevitável. Já a mudança no modelo de negócios pode - e vem sendo - postergada. Há até casos em que o modelo de negócios tradicional acaba inviabilizando o crescimento de novas tecnologias.
NÃO TENHA MEDO DAS MUDANÇAS
Por trás de toda estrutura da rede, existe um motivo que faz tudo isso funcionar, uma razão. Compreender o ambiente colaborativo das redes sociais é essencial, pois a maior força dela é a comunidade. A formação do coletivo público permite que você coloque as pessoas que lhe acompanham para “trabalhar” em prol da sua marca.
DO UNIDIRECIONAL PARA O MULTIDIRECIONAL
A principal mudança entre a comunicação de massa antes e pós-internet As mídias tradicionais pré-internet são essencialmente UNIDIRECIONAIS. TV, rádio, revistas e jornais não possuem a capacidade de escutar a opinião de seus leitores e espectadores - pelo menos não de forma rápida e direta, sem precisar de uma nova edição e uma seção de cartas. O processo de migração é lento em muitos programas de TV, que ainda tentam encaixar sua programação no Youtube. As revistas e jornais ainda pisam de forma tímida no universo digital. As rádios começam a ousar um pouco mais, porém ainda sem muito sucesso. E muito disso acontece por um erro simples: usar formatos de comunicação que funcionavam muito bem nas mídias de massa pré-internet nesta era pós.
A PRINCIPAL MUDANÇA DA COMUNICAÇÃO DE ONTEM PARA HOJE É QUE ELA DEIXA DE SER UNIDIRECIONAL E PASSA A SER BIDIRECIONAL.
A comunicação unidirecional desconsidera totalmente o fator diálogo. Não existe interação entre emissor e receptor. Isso era o natural para todos que estudaram comunicação na geração pré-digital e que aprenderam teorias como os 6Ws.
Porém, na comunicação interativa, não se pode chegar falando tudo de uma única vez. Afinal, trata-se de um diálogo. Ninguém começa um diálogo dizendo tudo o que a outra pessoa precisa saber! Ao entender que a base do diálogo é uma comunicação bidirecional, entendemos que precisamos ouvir, responder e provocar a interação. A próxima evolução do diálogo acontece em ambientes colaborativos. Além de bidirecional, entre emissor e receptor, agora vemos a mensagem propagando entre os receptores. A mensagem não apenas vai e volta, mas ela vai, volta e se propaga, de forma que o receptor passa a ser um novo emissor.
NA INTERNET, VOCÊ SEMPRE ESTÁ DIZENDO ALGO SOBRE VOCÊ
Nas redes, a comunicação multidirecional funciona de maneira quase invisível. Algumas vezes é bem fácil notá-la; noutras, não. Ao navegar pelas páginas da internet, mesmo não preenchendo nenhum formulário ou compartilhando algo conscientemente, você está comunicando algo a alguém - como, por exemplo, dizendo aos donos da página de onde você veio, onde mora e quanto tempo ficou ali.
DOS BABY BOOMERS ATÉ A GERAÇÃO Z
Até onde a classificação etária pode refletir nossa curva de aprendizado na tecnologia? Estudando sobre netnografia com Sérgio Perales* começamos a notar que cada geração teve seu primeiro contato com o meio digital em diferentes momentos e de diferentes formas, permitindo que traçássemos perfis biográficos.
Naturalmente é equivocado generalizar dizendo que, por exemplo, toda uma geração que nasceu antes 1980 têm um mesmo perfil e uma mesma experiência com a tecnologia. Por isso, diz-se que o perfil dos usuários de tecnologia são infinitos. Entretanto, existem perfis predominantes dentro de cada era.
Podemos identificar personas que possuem uma curva de aprendizado e uma compreensão diferente dessas novas tecnologias. Esses grupos de usuário não estão ligados ao ano em que eles nasceram, mas por quando e como acontecem os primeiros contatos com aparelhos digitais. E isso influencia na curva de aprendizagem de cada pessoa em relação à tecnologia.
“Identificar o perfil dos usuários não parece funcional. Como posso aplicar isso na minha vida?” Saber identificar um perfil netnográfico pode lhe ajudar na contratação de pessoas para sua equipe. Pode auxiliar a entender como você deve se portar ante pessoas menos tecnológicas, já que há gente de diferentes curvas de aprendizado e de diferentes compreensões. E, claro, pode ajudar a compreender e solucionar o conflito entre pessoas mais digitais e menos digitais.
Quer um exemplo de onde isso pode ser notado? Reuniões de equipe com diferenças muito grandes de idade. Uma pessoa pode anotar os tópicos de uma reunião tanto em um caderno quanto guardar tudo em seu aparelho smartphone. PORÉM, fazer isso no smartphone pode ser considerado falta de educação para alguns profissionais com um perfil menos digital.
Seja você o empresário, o profissional ou o professor, devemos compreender, educar, capacitar e respeitar os diferentes perfis existentes no mercado.
BEBA COM MODERAÇÃO É importante entender que, quando falamos de pessoas utilizando a internet, trata-se de um grupo crescente. Existem milhões de pessoas desta geração atual que moram em zonas afastadas dos grandes polos e sua inclusão digital (o contato com a internet e computadores) pode acontecer de maneira tardia - ou mesmo nem ocorrer, tornando-as párias, excluídas ou desconsideradas. Dessa maneira, temos muitas pessoas que, dentro de suas realidades, acabam não fazendo parte das “pesquisas do Brasil digital”. Por exemplo, estudos que dizem como usam a internet consideram APENAS quem usa a internet. E aquelas que não usam ou tiveram contato superficial? São totalmente desconsideradas. O mundo digital é menos complexo do que você imagina. Ele é até bem simples de compreender. O difícil, mesmo, é compreender as pessoas que utilizam a internet. Lembre-se: o mundo do qual você faz parte é algo MUITO maior do que pode-se imaginar. Essa compreensão o fará questionar muitas pesquisas colocadas no mercado - especialmente se você pensar que muitas delas são adotadas como verdade absoluta.
Capítulo 1 - Parte 2
Era dos Bits - Os videogames ganham popularidade no Brasil em torno de 1985. Os consoles evoluem muito rápido. Durante esse período temos uma geração de jovens e crianças crescendo e tendo os primeiros contatos com a mídia digital desconectada. Essa geração já se habitua com conceitos básicos em games. Exemplo: Menu digitais, janelas de informações e te…