A Falida Colaboração Aberta Pode Ganhar Nova Vida na Web3 — Mas a Solução Não Está na Tecnologia
Web3 e o Mito da Colaboração Aberta: Por Que a Tecnologia Sozinha Não Salva Comunidades
Desde 2022, venho me aprofundando nos estudos sobre Web3, especialmente após concluir o curso de Transformação Digital do MIT, com foco em LLMs, deep learning, machine learning e tecnologia blockchain. E é justamente na blockchain que vejo o verdadeiro motor da transformação digital.
A Web3 tem trazido à tona conceitos poderosos como comunidades descentralizadas, DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas) e ambientes de colaboração aberta. Porém, mesmo com tanto entusiasmo, esses movimentos começam a demonstrar cansaço diante de promessas não cumpridas.
Ao observar o ecossistema da Web3, não pude deixar de notar paralelos com o cenário da Web2 em 2008. Naquele período, falava-se muito em crowdsourcing, crowdfunding e economia das multidões. Era claro que estávamos diante de uma nova onda de colaboração impulsionada pelas redes sociais. Esse movimento gerou forças como a gig economy e a creator economy, todas baseadas na ideia da internet como um espaço de abundância — de conhecimento, recursos e conexões.
Entretanto, o que a Web2 iniciou, ela não conseguiu concluir.
Isso porque a colaboração na Web2 sempre foi conceitual, mediada por plataformas centralizadas e raramente acompanhada de relações financeiras diretas e significativas entre os envolvidos. A intermediação dessas plataformas criou um abismo entre quem cria e quem lucra. Criadores se tornaram súditos de plataformas que detêm o controle, os dados e o faturamento. O resultado? Pequenos feudos digitais onde se disputa atenção em troca de migalhas.
A Web2 promoveu o empoderamento dos indivíduos, mas, aos poucos, criou mecanismos de controle — decidindo o que pode ser publicado e quem merece visibilidade.
Já a Web3 ainda busca seu lugar. A ideia de autocustódia — ser realmente dono dos próprios ativos e dados — soa quase irrelevante para o usuário comum. Após 30 anos de uma internet onde ninguém é verdadeiramente dono de nada, a noção de propriedade digital ainda é mal compreendida ou ignorada.
A promessa de uma nova era de colaboração ainda está viva, mas depende de um ingrediente que não pode ser codificado: o fator humano.
A tecnologia por si só não é capaz de sustentar uma transformação real. Para isso, é preciso cultura, governança e comunidades que pratiquem, de fato, os princípios que defendem. Comunidades são feitas de rituais, valores compartilhados e regras que são respeitadas por todos. Sem esse alinhamento, toda iniciativa colaborativa está fadada ao fracasso.
Se conectar tecnologia à governança de pessoas fosse simples, não estaríamos cercados por tantos “cadáveres digitais” — comunidades natimortas que nunca passaram do discurso.
A Web3 ainda tem uma chance real de reinventar a colaboração aberta. Mas para isso, precisamos parar de olhar só para os protocolos e começar a cuidar de quem está por trás deles: as pessoas.