O Dilema da Inteligência Artificial: Usar, Ignorar ou Ser Engolido?
Uma reflexão sobre a inevitável integração entre humanidade e tecnologia.
O Dilema da Inteligência Artificial
A inteligência artificial vem, dia após dia, se tornando essencial na vida de profissionais e empresas. Em eventos, sua presença já é garantida em praticamente todos os palcos: está em palestras, painéis de discussão, mesas-redondas e podcasts. Há quem esteja empolgado e há quem esteja preocupado — uma reação que não é muito diferente das anteriores revoluções digitais. Basta lembrar do impacto das redes sociais, que há mais de três décadas vêm transformando pessoas e negócios. A IA é apenas a nova grande onda, mas com uma velocidade e escala exponencial ainda mais impressionantes.
O dilema atual — adotar ou resistir à inteligência artificial — é, de fato, um velho conhecido. Já passamos por isso com a massificação da internet, quando era necessário convencer as pessoas a terem um e-mail, um site, ou simplesmente estarem conectadas. Depois, com a chegada das redes sociais, o debate mudou para a presença online e o valor do tempo de tela. Quanto mais presente você estivesse, mais valioso se tornava. A mesma dúvida que existia no passado — "usar ou não usar" — agora ressurge, porém desta vez focada na IA.
Essa discussão é apenas mais um capítulo de uma revolução digital em curso, inevitável e irreversível. Pseudoespecialistas, muitas vezes sem entender minimamente o funcionamento da tecnologia, apressam-se em declarar tendências emergentes como sendo "modas passageiras" ou "futilidades". Essa postura, além de irresponsável, é perigosa, pois atrasa o amadurecimento do debate e a adaptação necessária.
O dilema sobre a ética no uso da IA é frequentemente superficial. Discutir se é ético utilizar inteligência artificial para realizar tarefas, como se a ferramenta fosse a protagonista da ação, é tão raso quanto questionar se é ético usar a internet para fazer um trabalho escolar. Seja IA, seja rede social, seja a própria internet: todos são meios, não fins em si mesmos. Não criamos essas tecnologias para serem autoras; elas são instrumentos moldáveis a propósitos infinitos. Tentar limitar algo intrinsecamente infinito é, no mínimo, ingênuo — para não dizer tolo.
Diante desse cenário, qual caminho seguir?
A resposta passa por adotar uma abordagem focada no processo e nos meios, em vez de apenas na finalidade e na utilidade. Pensar a IA de forma sistêmica é mais responsável e abre espaço para uma aplicação mais realista e funcional. Perguntar "o que é possível?" e "o que não é possível?" torna-se muito mais produtivo do que discutir conceitos genéricos de certo e errado.
Enquanto debatemos ética, bilhões de arquivos e conhecimentos estão sendo alimentados na IA, de forma irrestrita e sem filtros — exatamente como acontece nas redes sociais. O conhecimento humano atravessa, de maneira orgânica, a barreira entre o mundo físico e o digital. Pessoas estão se integrando aos sistemas de IA através de vídeos, textos, áudios — e, em breve, através de novos sentidos como cheiro e textura.
Estamos, inevitavelmente, criando um universo cada vez mais fluido entre o humano e a tecnologia.
E novos dilemas surgirão:
Como saber se estamos interagindo com um ser humano?
Como saber se aquele ser é único?
Como provar autenticidade ou autoria no meio digital?
Essas são discussões que estão muito mais próximas do que imaginamos. E, na velocidade em que avançamos, deixar essas questões para amanhã pode significar acordar em um mundo irreconhecível.